Ensino de espanhol tem sido abandonado em Minas Gerais

14/07/2022 13h05

Redução da oferta nas escolas públicas se daria mesmo com alunos interessados e professores qualificados.

Deputado que propôs o debate prometeu PEC que tornaria ensino do idioma obrigatório nas escolas
Deputado que propôs o debate prometeu PEC que tornaria ensino do idioma obrigatório nas escolas – Foto:Guilherme Bergamini

Grande interesse de estudantes no idioma espanhol e disponibilidade de professores capacitados para a aula deveriam levar à ampla oferta dessa disciplina nas escolas públicas.

A realidade, porém, é outra, inclusive com professores de espanhol efetivos da rede estadual de ensino sendo obrigados a trabalhar em outras áreas, como bibliotecas, pela redução da oferta da língua para os alunos.

Essa denúncia foi feita em audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na manhã desta quinta-feira (14/7/22).

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

Na reunião, os convidados apresentaram dados sobre a educação do idioma no Brasil e em Minas Gerais e reivindicaram uma lei estadual que ajude a ampliar a oferta do ensino da disciplina.

Como explicou o presidente da Associação de Professores de Espanhol de Minas Gerais (Apemg), Eduardo Amaral, entre 2005 e 2018, o espanhol ganhou importância no sistema de educação.

Como marcos do crescimento nesse período, ele citou que em 2005 foi sancionada a Lei federal 11.161, de 2005, que determinava que a oferta de aulas de espanhol fosse obrigatória. Em 2010, a língua foi incluída no Enem e, em 2011, o espanhol foi contemplado no programa do livro didático.

Ao mostrar dados sobre escolas que ofertavam aulas do idioma no Brasil, o convidado chamou a atenção para o fato de que, embora ainda em baixa proporção, ao longo do período o espanhol foi ganhando espaço.

Segundo Eduardo Amaral, a escolha do espanhol tem superado a do inglês no Enem 

Segundo Eduardo Amaral, a escolha do espanhol tem superado a do inglês no Enem – Foto:Guilherme Bergamini

A partir de 2018, porém, a oferta do idioma começou a cair nas escolas. Uma das causas apontadas foi a publicação da Lei federal 13.415, de 2018. Entre outras mudanças promovidas no sistema educacional, a norma revogou a legislação de 2005 que tornava obrigatória a oferta das aulas de espanhol.

Para Eduardo Amaral, a redução da oferta não faz sentido em um contexto em que os alunos se interessam pela disciplina e em que há professores capacitados para o seu ensino.

Segundo ele, dados mostram que, entre 2010 e 2020, a escolha pelo espanhol nas provas do Enem, em detrimento do inglês, foi, em média, de 58%. Ainda, todas as universidades federais localizadas em Minas Gerais ofertam cursos de bacharelado em língua espanhola, garantindo assim a formação de docentes em todas as regiões.

Professores de espanhol têm sofrido com desvio de função

Em Minas Gerais, concursos para professores de espanhol para as escolas públicas foram realizados em 2001, 2011 e 2014 e levaram à efetivação de professores na área.

Porém, segundo uma das professoras efetivas da rede estadual, Sidneia de Jesus, esses docentes não estão sendo autorizados a ofertar aulas do idioma em várias escolas. Eles têm sido desviados para outras funções, seja a docência em outras disciplinas (como o português), seja em outros setores da escola, como as bibliotecas.

Outro gargalho no Estado é o material didático. De acordo com Sidneia de Jesus e Eduardo Amaral, em 2019, foi entregue à secretária estadual de educação, Júlia Sant’Anna, um material chamado “Conexões interculturais em rotas hispânicas”. Esse material é, ainda de acordo com os convidados, citado pela secretaria entre os materiais curriculares do Estado, mas ele não foi distribuído para os professores.

Sidneia de Jesus informou que, nas poucas escolas onde o espanhol tem sido ensinado, os professores muitas vezes precisam desenvolver o próprio material didático.

PEC PODERIA TORNAR ENSINO OBRIGATÓRIO

Solicitante da reunião, o deputado Professor Cleiton (PV) lamentou a redução da oferta do espanhol e o desvio de função a que estão sendo submetidos os docentes.

O parlamentar disse que tem verificado, em escolas que ofertam atividades de tempo integral no Estado, vários problemas. Um deles seria a oferta de aulas, por exemplo, de robótica em escolas que não têm professores capacitados para o ensino da disciplina. Por outro lado, professores de espanhol estão disponíveis e não estão sendo aproveitados.

A exemplo do que tem sido feito em outros estados, como o Paraná, o deputado apontou que uma das saídas para resolver a distorção pode ser a aprovação de uma emenda constitucional no sentido de tornar obrigatório o idioma nas escolas mineiras. Ele apresentou, ao final da reunião, uma proposta nesse sentido. Segundo ele, já existem 26 deputados interessados em assiná-la.

Idioma é importante para inserção no mercado e formação cidadã

Os participantes da audiência pública falaram também sobre a importância do espanhol para a inserção dos estudantes no mercado de trabalho e para a sua formação cidadã.

A professora da rede estadual Sidneia de Jesus apontou que, segundo dados do Ministério do Turismo, em 2019, quase 4 milhões de falantes de espanhol entraram no País, sendo que 30 mil deles chegaram a Minas Gerais. Assim, o mercado do turismo é um dos que pode se abrir aos estudantes.

Outras áreas econômicas também podem se abrir a partir do conhecimento do idioma. Como lembrou o professor da Universidade Federal de Uberlândia, Leandro de Araújo, o espanhol é falado em mais de 20 países e é legitimado em arenas como as Nações Unidas.

“Pelo espanhol, podemos despertar o interesse dos alunos pelos nossos países vizinhos, pela história e cultura que se entrecruza com a nossa”, disse o professor.

Matéria publicada em: https://www.almg.gov.br/acompanhe/noticias/arquivos/2022/07/14_educacao_ensino_espanhol (14/07/2022)

Professores e alunos enfatizam a importância da língua espanhola nos currículos das escolas públicas

Durante a audiência pública realizada na quinta-feira (14/07) na Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), professores e estudantes universitários cobraram no governo a reinserção da língua espanhola nas grades curriculares da educação básica e do ensino médio.

A audiência foi solicitada pelo deputado Professor Cleiton (PV), para debater a importância do ensino do idioma nos currículos da Rede Estadual de Ensino. A secretária de Estado de Educação, Júlia Sant’Anna, foi convidada a participar, mas não compareceu e não mandou representante.

A audiência foi transmitida ao vivo pelo site da Assembleia e pelo canal da ALMG no YouTube.  Professores e estudantes de Uberaba, Uberlândia, Betim, Caeté, Paracatu, Ituiutaba, Carandaí, Cláudio, Contagem, Diamantina, Belo Horizonte e São Paulo acompanharam a audiência.

Pelo chat, diversos professores e alunos se manifestaram. Confiram alguns dos depoimentos:

Heberte10:28 – Caeté: “É extremamente importante o ensino de espanhol nas escolas, visto que a própria Constituição Federal prega integração entre os povos latino-americanos, portanto a língua espanhola é fundamental para se estabelecer esta relação sócio-política. #ficaespanhol.”

Juliana10:10 – Belo Horizonte: “Pergunto-me, por que não continuar ofertando um idioma tão importante no âmbito comercial e cultural em nossas escolas? Lembrando que o espanhol já estava implantado desde o 6o EF2 ao 3o ano EM na rede pública! E recentemente foi retirado abruptamente e substituído integralmente pela língua inglesa! Por que manter o espanhol apenas na rede privada? Não seria mais uma forma de exclusão?”

JESILENE09:53 – Belo Horizonte: “Temos recebido refugiados venezuelanos em toda a região de Belo Horizonte. É importante o ensino de espanhol para a inclusão social destas pessoas.”

Elzimar09:43 – Belo Horizonte: “É correto (legal) que um professor concursado para dar aula de Espanhol seja “aproveitado” para dar aula de outro componente curricular?”

Zeulli09:34 – Uberaba: “A escola pública muitas vezes é o único lugar que os alunos têm acesso à língua espanhola!”

Vitor10:37 – Belo Horizonte: “O espanhol do ensino médio me abriu várias portas, principalmente quando tive a oportunidade de estudar nos EUA. Por incrível que pareça, apesar de ter o inglês como língua predominante, o espanhol é fortíssimo lá, principalmente nas regiões de imigrantes, como California, Texas e Flórida.”

Laura Maffia10:26 – Belo Horizonte: “O espanhol não é só uma língua. É também cultura, conhecimento, oportunidade e identidade! Não é justo retirar tanta riqueza de nossos alunos e, principalmente, do futuro do nosso país!”

Eduarda10:12 – Belo Horizonte: “O aprendizado do espanhol é um grande diferencial no mercado de trabalho, as oportunidades são muito aumentadas para os profissionais com esta competência! Precisamos capacitar os alunos para este mercado global e multicultural.”

Ariel10:00 – Uberlândia: “Desejamos profundamente que a Comissão se sensibilize pela situação do espanhol no Estado de MG. É um apelo desde a UFU/MG!”

Paola10:09 – Belo Horizonte: “Sou aluna do curso de Letras espanhol na UFMG e é muito triste ver as perspectivas futuras em relação à língua espanhola. Pedimos que a situação dessa língua tão rica seja reconsiderada pelos inúmeros motivos apresentados. #ficaespanhol”

Paolla Custódio09:57 – Belo Horizonte: “O espanhol também faz parte da nossa identidade enquanto latino-americanos. Tirar o espanhol das escolas é privar um senso de pertencimento aos alunos.”

Val09:58 – Carandaí: “Nós professores que nos formamos, foi em vão? Estudamos anos a fio a toa? Estudamos só para adquirir um diploma e pendurá-lo na parede? Alunos da rede pública não merecem estudar um idioma que é considerado hoje, a 3a. língua mais falada do mundo, e no futuro ter uma porta aberta no mercado de trabalho? Não entendo o por quê desse preconceito.”

 

 

 

 

Representantes da APEMG, professores e alunos participam de Audiência Pública na Assembleia Legislativa de MG

A Audiência Pública, realizada na quinta-feira, 14/07, na Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) teve como objetivo debater a importância da inserção da língua espanhola na grade curricular da Rede Estadual de Ensino.

A iniciativa foi do deputado Professor Cleiton (PV), integrante da comissão, que defende a inclusão do ensino do espanhol nas redes públicas de educação. Segundo o deputado, “nossos alunos merecem esse ensino. Sabemos que há milhares de professores capacitados para ministrar essas aulas. Ganha a educação, ganham os professores e ganham os alunos”.

A professora de língua espanhola na rede estadual, Sidneia Fátima de Jesus, uma das representes da APEMG e dos professores da rede pública participou da mesa de debates e enfatizou que os professores concursados estão sofrendo com a exclusão do espanhol no currículo da Educação Básica no Estado de Minas Gerais.  “Nossos colegas estão sendo colocados para atuar em área distinta à que prestaram concurso. Alguns em língua portuguesa, quando sobram aulas, e em outros conteúdos que possam lecionar, para completar o cargo ou para não terem que deixar a escola”, afirmou ela. 

Também participaram da mesa de debates o presidente da APEMG, prof. Eduardo Amaral, que representou a UFMG; a prof. Clarisse Barbosa, secretária da APEMG e representante da UFVJM; o diretor da APEMG, prof. Leandro Silveira de Araújo, representante da UFU; e o prof. Ítalo Riccardi León, representante da UNIFAL.

Na plateia, estiveram presentes professores da UFMG e da rede pública e estudantes. É preciso destacar que estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Roraima já ofertam o espanhol nas grades curriculares das escolas públicas.